A COMILANÇA

Por Arthur S. M.


O filme de Marco Ferreri leva às últimas conseqüências os desejos do ventre para baixo. Quatro amigos resolvem se suicidar numa orgia sexual e gastronômica - o vazio da vida lhes é preenchido por comida, muita comida. Nessa escolha poética, no entanto, a sensibilidade fica em segundo plano, a voracidade é a regra. Se é bela a montagem do prato, tal refeição só se realiza quando é absolutamente desfigurada por glutões à busca da saciedade de suas vidas. Há arte em fazer a comida, não em comê-la.

Não espere ficar com fome após o filme. Mas fica claro que apetite nada tem a ver com comer. Comer tem a ver com a morte, é o que nos mantém vivos para morrer. Os personagens vividos por Marcello Mastroianni, Michel Piccoli, Philippe Noiret e Ugo Tognazzi (que mantêm seus prenomes no filme) escolhem uma forma grotesca de morrer, mas após a comida empanturrar seus corpos até seus cérebros, ninguém pode dizer que o grotesco não sacia.

Um comentário:

Anônimo disse...

O filme é excelente, um clássico do cinema niilista e grotesco.
Me deu vontade de morrer peidando