A PELE



Diane Arbus (1923-1971) descobriu-se uma fotógrafa talentosa quando trouxe à tona seu fascínio pelos “outsiders” - travestis, pessoas com anomalias genéticas e personagens de circo. Para representá-la, Nicole Kidman deu conta do recado, convenceu. Robert Downey Jr por sua vez, teve o defeito físico do personagem a seu favor, pois quase não vemos o seu rosto inexperessivo na tela.


As tomadas e a fotografia são excelentes. A trilha sonora misteriosa e melancólica ressalta o universo íntimo e a curiosidade da personagem. Além disso, o filme é repleto de cenas muito bem construídas e bem fotografadas. Duas que especialmente me chamaram a atenção foram: uma em que Diane abre uma “passagem oculta” no sótão, que comunica com a casa de Lionel, seu vizinho tricotômico (coberto de pêlos), e por lá seus amigos estranhos adentram seu estúdio fotográfico. Pode-se entender como uma metáfora do acesso aos desejos reprimidos da artista. Seu interesse pelo “outro lado” sendo liberado e fluindo para sua casa e sua vida de maneira irreversível. Outra cena interessante é a que Diane regressa depois de uma noite e um dia fora, coloca a chave na fechadura do seu apartamento, o marido lá dentro ouve e anseia pelo reencontro, ela retira a chave, sem abrir a porta, e vai para a casa vazia do amigo. Aí estava retratada sua decisão. Neste momento podemos entender tudo o que aconteceria em seguida, sem que única palavra fosse dita. Lá vai mais um spoiler: Diálogo muito bom acontece quando Diane questiona o Lionel sobre sua abstinência sexual, ele responde que estava esperando por uma aberração verdadeira, como ela.

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